Desde a primeira newsletter vocês foram informados que talvez, em algum momento, os dois podcasters ligariam o microfone e fariam esse conteúdo em áudio e esse momento, para a surpresa de ninguém, chegou.
Ligamos o microfone da forma mais amadora possível, o gravador do celular, e conversamos um pouco sobre como foi nossa experiência de fugir da chuva de São Paulo no meio do carnaval e conhecer um carnaval novo para nós dois, o de Belo Horizonte. Se você estava com saudade de escutar a Piera no Lambisgóia e o Julião no Papo Torto, saiba que não tem nada a ver, a não ser nossas vozes, ironias e a risada inconfundível, já nos primeiros segundos.
Bom mergulho, agora em áudio, e contem pra gente se gostaram.
Se você não ama carnaval… - por Piera
Como prometemos no podcast, te trago imagens de toda essa catarse. Inclusive do Julião sendo muito feliz, o que prova minha teoria:
Se você não gosta de carnaval, talvez só não tenha encontrado o seu. Carnaval é muita coisa, inclusive algo feito da forma que você quiser. Pode ser um megabloco, onde você vai sentir todo calor humano, e como conseguimos ser todos um só em um mesmo movimento (alô navio pirata). Quem sabe um bloco pequeno onde senhorinhas dão banho de mangueira nos foliões. Tem os de clube, os de quintal, os de chamar os vizinhos e brincar na rua, os de salão de festa de prédio, gospel, para crianças e até de pet tem. Atrás do trio, elétrico ou não, só não vai quem não prestou atenção.







Como mergulhar no Mercado Novo de BH - por Piera
Essa não é uma newsletter de viagem, mas aparentemente está se tornando, pois desde que começamos a escrevê-la não aquietamos em casa por mais de duas semanas. Por isso, já deixo aqui o apelo de: (insira aqui uma marca de viagem) patrocina a gente.
Mas a verdade é que muito do que eu amo sobre viajar é essa imersão que novos lugares me forçam a fazer, é o mergulho em uma cultura que às vezes é um centímetro diferente da minha e já abre todo um universo.
Belo Horizonte é bem pertinho de São Paulo, também é no sudeste do país, e tudo é extremamente familiar, da arquitetura da cidade às músicas, mas quando você olha mais de perto e coloca na boca sente a pitada a mais de açúcar que tem ali. Aqui estou generalizando, e paciência, estou apaixonada pelo lugar.
Escolhi dois destaques além do carnaval pra conversar por aqui.
Primeiro, o mercado novo. Se você já leu as edições sobre Belém e Salvador, sabe da paixão que mercados me despertam, ir ao Mercado de uma cidade é, para mim, essencial. É por onde eu começo a entender como a cidade pulsa. E em BH não poderia ser diferente, o Mercado Novo, ou o Velho Mercado Novo, que existe desde 1963, foi construído para ser uma nova ala do Mercado Central e com os anos se tornou um conglomerado de gráficas e pequenas lojas. Em 2017 foi redescoberto por empreendedores locais que enxergaram no edifício de tijolinhos vazados e cheio de lojas vazias um ótimo local para uma nova cena gastronômica e cultural, e deu muito certo. Lá você encontra restaurantes maravilhosos (que o Julião já vai te contar ali embaixo), marcas locais com uma moda autoral que encanta, galerias, ateliês, brechós e muitos lugares para bons drinks. A noite de BH passa por ali, então, vale a visita no final da tarde, quando as lojas ainda estão abertas para terminar em um dos muitos bares para uma caipirinha com uma saborosa cachaça mineira.
Segundo, um lugar que mora dentro do mercado, o Estúdio Veste. Entramos ali atraídos por bordados e itens para a casa, e fui surpreendida por, além de toda delicadeza de tudo que estava ali, encontrar a Carol, uma das muitas web amigas, que o Instagram me deu, e que nos recebeu com um sorriso e uma doçura imensa. A Carol contou que o estúdio tem uma proposta que combina muito com tudo que eu gosto de produzir e consumir, que é transformar a memória afetiva, de casa, das idealizadoras em produtos. E produtos lindos e delicados. Fiquei apaixonada por tudo. Lá elas fazem produtos para venda a pronta entrega, como almofadas bordadas com elementos que estavam presentes em casas que elas viveram e mil outras coisas, como um avental belíssimo que agora veste Julião quando ele reproduz receitas mineiras aqui em casa. Vale a visita na loja virtual se você vai demorar para ir presencialmente por lá. E também projetos, feitos para estabelecimentos e também para casas, eu já fiquei com vontade de ter um projeto pra nossa, e eu tenho certeza que vem aí.
Fiz uma listinha de lugares que passamos e encantaram os olhos pra você ter mais um motivo para visitar BH:
LED - Roupas agênero (e deslumbrantes)
Surra de Pão de Queijo - por Julião
Já tinha ido algumas vezes à BH, mas nunca me acostumei com a surra de pão de queijo. Qualquer estabelecimento tem um cheiro constante do melhor salgado do Brasil sendo assado. Acho que se entrar na Farm em BH, vai ter cheiro de pão de queijo (ou qualquer outra loja que tenha fragrâncias próprias). Será que a Giovanna Baby de BH tem cheiro de pãozinho de queijo?
SEGUINDO… Todo pão de queijo é o melhor do mundo em Minas. Não tem como. Eu e Piera rimos muito no café da manhã do hotel, quando um garçom passou servindo todo mundo com o pão de queijo que tinha acabado de sair do forno. Tinha pão de queijo, ainda fresquinho, no buffet. Mas aquele era novo, então todo mundo tem que comer.
Todo mundo tem que comer o Pão de Queijo recheado da Pão de Queijaria. São três endereços, mas fomos no Mercado Novo. Foi a primeira recomendação que nosso amigo Matheus Dias, tatuador incrível da cidade, nos deu - e como valeu a pena.
Eles pegam um pão de queijo enorme e recheiam. É isso. Com pernil, queijo e couve crispy. Linguiça artesanal e requeijão de corte. Lagarto, couve e molho barbecue caseiro. Salivei muito lembrando e foi uma das melhores coisas que comi nos últimos tempos. Imperdível e fundamental.
Na busca por gastronomia local, já que eu estava desesperado por um tutu e feijão tropeiro, fugimos das filas do ótimo Xapuri e fomos até o Dona Lucinha, que carrega o nome da cozinheira que abriu o restaurante familiar que nos abraça. A linguiça artesanal feita no interior do estado é obrigatória, assim como o tutu de feijão que acompanha a mesma linguiça, arroz de alho, bisteca e couve. No final, um café coado levanta defunto e licor de canela, por conta da casa, para ajudar na digestão. A dica é comer e correr pro hotel para tirar um cochilo.
E, pra terminar, o que talvez foi a grande surpresa da gastronomia mineira para nós: o Ninita Cozinha, que mistura os sabores do estado com… cozinha italiana. Torci um pouco o nariz quando li em minhas pesquisas no google, mas decidi olhar o menu. Antes de chegar aos pratos principais, sabia que teríamos que comer lá - e que ótima decisão. O chef Léo Paixão me deixou de joelhos, implorando por um estômago maior. De entrada, um Crostini de carpaccio bovino, rúcula, queijo mineiro, alcaparra e raspas de limão siciliano. Quase chorei de emoção.
No principal, não conseguimos nos decidir, então, dividimos dois pratos. O preferido da Piera foi o Miolo de fraldinha (Skirt Steak), acebolada com linguini caccio e pepe à cavalo. Sim, à cavalo. Uma gema caipira, ainda na casca, vem junto ao prato para ser misturado na mesa. Saborosíssimo. Meu preferido foi o risoto de açafrão da terra com polvo e camarões na brasa. Não gosto de risotos muito “peixudos” e esse era feito no caldo de legumes e finalizado com o açafrão brasileiro. Perfeito.



Comida gostosa em todos os lugares te faz criar memórias incríveis, mas o que mais nos encantou foi a ternura com que fomos atendidos. O mineiro é muito especial - e em todos os restaurantes batemos papo por quase uma hora com todos atendentes. Era aquela conversa gostosa, com riso frouxo. Em um dos restaurantes, pedimos uma entrada que vinha com pão de queijo e o garçom se recusou a nos servir: “O PDQ saiu há uma hora, não tá mais legal”, exclamou. Argumentamos que queríamos mesmo assim, estamos acostumados com um Pão de Queijo não tão fresco em São Paulo. Ele bateu o pé e disse “não tem mais pão de queijo”, para encerrar o assunto. Não foi grosseria, foi carinho.
Arte pela primeira vez - por Julião
Na quarta-feira de cinzas decidimos pular o bloco mais famoso do dia para fazer outras coisas. A Piera tinha que fazer algumas coisas do trabalho para resolver, então fomos no fim da tarde ao Mercado Novo almoçar. Depois, sabíamos que era o primeiro dia da exposição d’Os Gêmeos no Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte e que o espaço ficaria aberto até 22h (!!!). Então, corremos pra lá.
A exposição é a continuação da turnê dos artistas que passou por São Paulo, na Pinacoteca e no CCBB do Rio de Janeiro. Vale a pena conferir, mas não vou entrar muito em detalhes, já que quero destacar dois momentos que testemunhamos por lá.
Logo na primeira sala, naquela apresentação dos artistas, o primeiro pensamento foi “uau, quanta criança”. Faz sentido. Imagino que o universo criado pelos Gêmeos se conecte com os pequenos de uma forma diferente que pra nós, adultos. Uma das crianças, no auge de seus aproximadamente oito anos, soltou, após ler a parede escrita em primeira pessoa com a linha do tempo da dupla: “Quem é esse Bansky?”. Meus joelhos perderam a força e os olhos encheram de lágrimas. Não pelo pintor misterioso ou pelos brasileiros, mas por testemunhar aquela primeira faísca curiosa que talvez possa mudar a relação da menina com a arte. Com lágrimas escorrendo em grandes quantidades, olhei pra Piera, que também enxugava os olhos.
Precisei parar um pouquinho antes de seguir na exposição, que estava bem cheia - um ótimo sinal. O CCBB de Belo Horizonte não cobra ingressos, o que incentiva bastante a visitação. Fantástico. Uma amiga minha, Flora Pinheiro, que faz licenciatura em artes visuais e trabalha no Museu de Arte da Pampulha, explicou que os principais museus e centros culturais da cidade são gratuitos.
Com o fôlego recuperado, seguimos para as seguintes salas, que eram separadas entre si por ante-salas para transição de som ambiente. Você entra nessa pequena ante-sala, fecha a porta que entrou e abre a que leva para a próxima parte da exposição. Numa dessas dinâmicas, tivemos a companhia de uma pessoa em condição de rua e pudemos ver o deslumbre ao entrar em uma área totalmente colorida pelo universo dos artistas. “UAU, ISSO É LINDO”. Ele procurava nossos olhos para ter alguém pra compartilhar a empolgação. “Isso é a coisa mais bonita que já vi”, disse, dando pulinhos, se dirigindo a um dos monitores do CCBB, que tratou de acompanhar e explicar o que estava ali.
A arte existe por vários motivos, mas talvez esse seja o mais bonito de todos. As emoções que uma escultura pode oferecer me encantam, às vezes mais que a própria escultura. Ver uma criança se interessar pelo Bansky (que tinha duas telas lá) me fez chorar ao pensar que ela pode ter a mesma relação que eu tenho com arte: a arte me faz mergulhar todos os dias.
Que bom que ela existe.
Oi Piera, tudo bem? (Oi Julio! Para não fazer a mal educada haha, mas o comentário vai mais para ela)
Eu sou Maíra, uma das tietes de BH (eu não acredito que não tive essa ideia de te pedir o “amiiiiga” haha, mas já estava super envergonhada de te abordar, afinal você estava lá para curtir o carnaval!).
Mas só dizer que AMEI escutar sua gargalhada novamente e ainda mais falando com tanta delicadeza da minha cidade! Como seus amigos mineiros já devem ter explicado o carnaval de BH é recente e fruto de uma disputa política pelo direito a ocupação da cidade. É ainda mais recente os (ainda escassos) financiamentos, e os blocos dos pequenos aos megas só saem com uma mobilização muito grande de seus membros e do financiamento público. Ah o prefeito é oposição ao Zema, atualmente é o vice do Kalil que disputou contra Zema para o governo do estado (Minas é essa contradição, único estado do sudeste que elegeu Lula, pode agradecer a gente também hahaha, mas manteve esse bosta do Zema).
É interessante escutar sobre nós mesmos pela perspectiva do outro, outro nem tão distante já que SP é logo alí, mas perceber essas gentilezas que para gente passam muitas vezes desapercebidas da um orgulho danado do lugar que a gente está construindo, e uma atenção de sempre acolher bem seja quem vem de fora ou o que aqui já está.
Se por um lado ficamos lisonjeados com tantos elogios dá um super medo dessa propaganda toda descaracterizado esse rolê que tem sido tão nosso, mas aí já é nosso jeito desconfiado aflorando.
Enfim, fazendo a intima, porque para gente que te escutava e que hoje te lê você é praticamente uma amiga platônica haha, espero que em 2024 BH te acolha com o mesma amabilidade! Mantenha os cuidados com segurança, porque por mais que esse ano tenha sido bem de boa, o seguro morreu de velho, e traga a Marcela aquela maravilhosa, que se quiser beijar minha boca estou aí hahaha. Estarei esperando com um copo Stanley com Catuçaí do Nandão!!!
Fiquei com gostinho de Carnaval na mente. Eu que sempre fui de Carnaval, agora morando fora do Brasil, só resta sentir saudade e tentar programar as novas idas na época.
Adorei o conteúdo e essa foto do Monet... que fofo! Amo vcs e ele também.